the whore within

Este sabado eu fui a um aniversário de um amigo, festa a fantasia, mais específicamente um cabaré: Cabaré do Mané. Dado o tema as meninas tinham que ir vestidas de puta e o rapazes, bom os rapazes, de cafetão. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que vida de homem é muito fácil, eles podem ir fantasiados tanto de cafetão como de cliente. Alias, esse tema é bom demais pros meninos, eles nao investem muito na fantasia e tem uma festa cheia de mulheres pouco vestidas garantida. Mas não vou nem entrar desse assunto... peitos cabeludos e correntes de ouro a parte, meu assunto é a puta em mim.

Pensar na fantasia (bom, eu sou daquelas que capricha!) foi muito divertido. Passei por várias etapas. Primeiro eu queria ir com um cabelão, mas vamos combinar que peruca em recife é uma tentativa de suicídio, daquelas lights, mas é flertar com a morte. Segunda opção, um rabo de cavalo, que não deixa de ser uma tentativa de peruca, só mais fresquinha. E foi ai que eu notei como estava indo pro um caminho provinciano. Como assim eu preciso de cabelo comprido pra ser feminina? Francamente dona Patricia! E todos os seus discursos do passado? Pra não morder a língua resolvi que iria com o meu cabelo como está, e iria linda. Pronto!

Cabelo curtinho em vagabunda... mmm.. deixa ver... melindrosa. Fechou! Melindrosa é lindo! E as franjas? Mais lindo ainda.. e pronto, a melindrosa me conquistou. Fechei com ela. Foi ai que me ocorreu que melindrosa tem o vesditinho soltinho, e eu queria colocar minha cinturinha pra jogo ("inha" foi elogio meu para minha própria pessoa, hihi). Então, foda-se a referencia historica, eu vou de franjinhas da bunda e de espatilho. Sai pra comprar as franjas, e achei uma linda, com um caimento divino, preço razoavel, mas a cor - um lilas bem claro, tom de vestido de casamento da mãe da mãe da noiva, daquelas que entram de bengalinha e atrasam o cortejo - a cor me deixou meio tristinha. Mas era a cor que tinha então foi a cor que eu comprei. Eu tive ideias malucas de sair misturando cores pouco obvias com aquele lilas sujo, encarnar a viva Vivienne Westwood e mandar bala.

Bom, ai começou a produção. Cortei um espartilho velho, dos tempos que meus namorados ainda ligavam pra essas coisas, forrei da cor do vestido. Costurei um vestidinho mínimo, frente unica. Coloquei minhas franjinhas lindinhas nele. Comprei meia arrastão, cortei e fiz 7/8 delas com uma liga de lantejoulas pretas em cada perna. Perolas, piteira, uma pena preta na cabeça e sapato boneca eu tava prontinha. Não, não, ainda faltava a maquiagem. Mais um drama Patricia X Recife. Maquiagem é legal, mas nesse calor ela vai parar no queixo antes da ultima badalada das 10 horas (meia noite só com muita sorte!) Entao, maquiagem básica e cilios postiços, que não derretem, bem grandes mesmo, já o que o resto todo ia sumir durante a noite.

Quando terminei tudo que eu notei como estava distinta. Mesmo com a saia mínima. Mesmo com o espartilho pra fora da roupa. Mesmo com o decotão. Não pode ser que o lilas-bisavó-casando-a-ultima-neta tenha essa força toda. E as franjinhas sacudindo quando eu rebolo? Não conta? E os nove metros de perna de fora? Nada disso. No final das contas eu era a puta mais distinta do cabaré. Quase uma madame que já largou a labuta depois de anos de estrada, dona do proprio negócio, trazendo mocinhas semi-novas do interior pra vender na capital.

Por alguns minutos ainda flertei com a ideia de dar uma esculhambada na composição pra ficar mas vagaranha. Mas desisti, eu acho que sou distinta mesmo, lá no fundo todo mundo tem um "que" de puta e a minha é fina, é madame e é chique. Talvez até mais distinta do que o resto de mim. Deve ser por isso que eu nunca cobro. ;)